A propósito de mais dois recados de Enc. de Educação para professores que acabo de receber, sirvo-me desta citação, da qual desconheço a origem, para sinalizar que há algo vai mal, não no reino da Dinamarca, mas sim no nosso canteiro à beira mar plantado.
O assunto da mensagem de mail que me chegou era «Os papás é que mandam». Fico completamente atónita com a ironia e com a arrogância que ela denota. Começo logo por ficar surpreendida com o facto de haver quem faça circular tais mensagens. Começam a desenhar-se à minha volta um rol de hipotéticos filmes ...
Filme I
Será que os professores que fazem circular este tipo de mensagens se sentem tão ameaçados com elas, que não têm outra forma de reagir, a não ser divulgá-las? Trabalham em escolas onde não há qualquer possibilidade de diálogo entre os Enc. de Educação e professores, tal é o clima que aí se vive? Acham que têm sempre razão e que nunca se podem enganar? Não são capazes de ouvir os alunos, nem os seus pais, para perceberem melhor o que este tipo de mensagens significam? Desconhecem por completo que a forma que a Escola hoje assume é uma recentíssima construção social, que não teve sempre esta forma? Que a Escola é uma resposta social e cultural local, uma comunidade cultural de formação e de socialização de todos os que lá se cruzam, onde para além dos alunos eles próprios se devem incluir, bem como os Encarregados de Educação?
Filme II
Pensando em que não há acções que não sejam reacções a outras acções ... imagino a pressão a que estes alunos não devem estar sujeitos, para que os pais se sujeitem a escrever este tipo de mensagens. Imagino como estes professores devem sentir que a sua função de "instrutores" fica ameaçada com este tipo de mensagens. Não serão os professores mais do que meros "instrutores", transmissores de conhecimento, mais do que peças de uma enorme engrenagem? Se eles não souberem transmitir aos jovens o gosto pelo conhecimento (e falo aqui de diversos tipos de conhecimento: aprender a ter, aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver em conjunto, aprender a aprender (Delors, 1996)), a pertinência social e cultural desse conhecimento ... será que os poderemos considerar como verdadeiros Professores, como Educadores, como agentes culturais efectivos?
Reconhecendo que nos últimos anos tem havido uma enorme pressão sobre os professores, este tipo de mensagens não acentua e reforça esse tipo de pressão?
E o que tem este tipo de reacções a mensagens como estas, a ver com essa forma de pressão social sobre a classe docente?
Só percebendo o que significam estas missivas, no seu contexto concreto, se lhes poderá uma resposta adequada e compreensiva, tudo o mais são especulações, como aquelas que aqui vou faço.
Lembrei-me a este propósito de um texto que escrevi há uns anos e que me parece ainda actual, mostrando como me situo: http://inquietacaopedagogica.blogspot.com/2006/05/eduqus-algum-sabe-ou-conhece-este.html
Voltarei certamente a esta temática! Para vos falar do Filme III.
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