A propósito das funções da Escola e das discussões a que temos assistido nos últimos tempos, não posso deixar de partilhar aqui esta citação de Ubiratan d'Ambrósio (2003), no texto que estou a ler e que se intitula, «Tecnologias de informação e comunicação: reflexos na matemática e no seu ensino»:
«Deve-se notar que, assim como a aritmética entendida como fazer contas, a álgebra e o próprio Cálculo Diferencial, são técnicas de manipulação de dados.
Interessante notar que havia, na época, um grande interesse em tecnologia que permitisse efetuar, mecanicamente, esses cálculos. Particularmente cálculos trabalhosos. Filósofos, como Leibniz e Blaise Pascal (1623-1662), viam, no fazer contas, uma atividade puramente mecânica, que não merece ocupar o tempo dos seres humanos, cuja capacidade deve ser para pensar e não fazer operações de rotina. Sonhavam, sem imaginar que pudesse ser possível, com calculadoras e computadores.
Leibniz e Pascal foram pioneiros na busca de uma tecnologia que liberaria o homem de um pensar puramente mecânico e rotineiro, reservando à mente humana tarefas mais nobres. Pascal chegou a patentear um protótipo de uma máquina de calcular. Hoje possuímos a tecnologia adequada para dar maior dignidade à mente humana.
As pesquisas recentes sobre primatologia nos indicam que chimpanzés têm significativa capacidade numérica. Será uma espécie que, eventualmente, poderá nos alcançar na capacidade de fazer contas? Não há indicações que se encaminham para desenvolver a criatividade das explicações, da transcendência, das artes e das religiões, mas poderão ser treinados para aprender a fazer contas. Será correto treinarmos nossas crianças para esse mesmo aprendizado, quando nossas crianças dispõem da tecnologia que as liberta dessa rotina mecânica?»
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