É impressionante a quantidade de questões que se levantam a propósito do "Ensino remoto de Emergência" (ERE). Ou a complexidade das sociedades modernas. Não se podem baralhar, pois cada uma delas, por si só, tem muito que se lhe diga. Só elencando:
1. A questão dos meios tecnológicos disponíveis nas Escola: a falta de atualização e de investimento das políticas educativas neste domínio, desde a "troika", desde os computadores à Internet - uma questão que, apesar das promessas políticas, públicas, depois do confinamento de março, continua por resolver, sem que haja qualquer explicação; a grande maioria dos professores, tal como aconteceu em março, utilizará os seus próprios meios (computador e Internet) para, em teletrabalho (nas suas próprias casas) dar as suas aulas, fazendo o melhor que sabe e consegue, como sempre acontece; (um escrito relacionado: https://www.facebook.com/jorgehumberto.nogueira/posts/4076584622376472)
2. Há a questão das abordagens pedagógicas - "O problema das tecnologias na Educação, é um problema da Educação, não das tecnologias", mas "sem ovos, não se fazem omeletes!" (essa é a parte do ponto 1, dos recursos): um ensino mais centrado no professor, que recorre sobretudo à aulas expositivas, herdadas da escolástica, do "ensinar a todos como a um só", numa lógica transmissiva e reprodutora; ou abordagens centradas na aprendizagem, centradas nos alunos, no diálogo com estes, com os respetivos interesses, em que o programa (mais conhecido por currículo) é um mediador, entre muitos outros disponíveis, desde os recursos disponíveis na Internet, nos media, nos livros em papel, ... numa lógica de construção, de criação, de produção de artefactos culturais que podem ser partilhados e servir outros, recorrendo a metodologias de trabalho de grupo, de pesquisa, de envolvimento e de partilha - uma lógica e metodologia em que os alunos se tornam eles próprios co-construtores da sua própria aprendizagem [o argumento contra esta forma de trabalhar é a necessidade do treino para os exames ... ] - gostava de conhecer atividades: de estatística feitas com os números e os gráficos da pandemia ... ; de história, sobre as pandemias anteriores e como foram vividas, o que se aprendeu com elas; de ciências, sobre virús e o que a ciência foi aprendendo; de literatura, sobre a literatura produzida em tempos de pandemia; de filosofia, sobre as questões existenciais e a(s) pandemia(s); ... sejamos criativos e criativas ...
3. A questão das desigualdades sociais no nosso país: dos recursos tecnológicos disponíveis em cada casa para que as crianças e os jovens possam tirar partido do Ens. Remoto de Emergência; das diferentes capacidades dos adultos que acompanham os mais novos para os apoiar - o nível socio-cultural e educativo da população portuguesa; as diferenças entre as condições existentes em cada habitação, ou seja, os espaços disponíveis para o trabalho; e, finalmente, a efetiva disponibilidades dos adultos para acompanharem os mais novos, se têm tempo material para o fazer, se não precisam de estar em teletrabalho, se não precisam de ir mesmo trabalhar ... uma enorme diversidade de situações e de problemas a resolver.
Ficou muito evidente, desde o primeiro confinamento, quem são os alunos que menos beneficiam com o ERE, os mais desfavorecidos, os mais vulneráveis, ou seja, os mais pobres.
Mas, gostava de aqui dizer, que, apesar de ser muito sensível a todos estes problemas, de achar que enquanto país temos ainda muito para fazer para resolver as desigualdades sociais, que considero que qualquer um destes problemas não nos deve impedir de fazer o melhor que está ao alcance de cada um(a), para minorar a situação dos mais novos, das crianças e dos jovens - com todos os defeitos e limitações com que sejam feitos.
Durante o primeiro confinamento, pelo que fui acompanhando, houve uma enorme explosão de criatividade, de solidariedade, de entreajuda, de partilha e empenho. Estou certa que agora, apesar das dificuldades e do cansaço, vai acontecer o mesmo! Para bem de todos nós! Só precisamos de fazer o melhor possível. Cada um de nós.
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