Há tempos o mundo entrou numa crise económica generalizada por causa dos mercados financeiros e bolsistas - foi o que ouvi, não percebo nada destes assuntos: tudo é para mim demasiado abstracto e longínquo, toldado por uma nuvem de incompreensão. Compra e venda de acções, obrigações, e nem sei bem mais o quê ... "Coisas", que nem se materializam, mas que dão enormes lucros a grandes investidores, às grandes fortunas, incluindo a bancos e seguradoras, de que todos somos clientes (e que por isso sustentamos). Bancos e seguradoras que não pagam o mesmo tipo de impostos sobre os seus rendimentos, como os contribuintes individuais ou sequer as médias e pequenas empresas, tão necessárias para a sustentar empregos a tantos que apenas vivem do seu trabalho.
Em épocas de crise naturalmente que os grandes investidores bolsistas também terão grandes percas - como os próprios dizem para quem está a seu lado: «Quem não arrisca não petisca!» Às vezes penso que também gostaria de poder perder como eles perdem, nestes jogos de perder e ganhar bolsistas, sem ver ameaçadas as minhas necessidades básicas de subsistência: "habitação, pão, saúde, educação, trabalho, ..." Não devo ser única, certamente. Eu sou das que vivo apenas do meu ordenado, um ordenado de professora, do qual nem sequer me posso queixar porque chega todos os finais de mês e é bastante acima do salário médio nacional.
Esta conversa toda, vem hoje a propósito dos títulos que estava tranquilamente a ler na Visão, nas minhas leituras de fim-de-semana. Não resisti a vir aqui partilhar as minhas interrogações, inquietações e perplexidades face ao momento crítico que vivemos enquanto pequeno país, num contexto mais global. Estes problemas nem sequer são apenas nossos ...
Títulos e excertos da Visão:
«Às vezes, nos mercados, os especuladores filam num país e atacam-no fortemente para, por essa via, conseguir lucros extraordinários.» (Cavaco Silva, Presidente da República [não foi nele que votei como candidato presidencial]
«BOLSAS. As principais praças da Europa recuaram perante o ataque especulativo contra as dívidas da Grécia e de Portugal.» (Legenda de fotografia, Visão, p. 60)
«[Vitor Bentes] defende a redução dos salários e dos preços para recuperar a competitividade perdida. Agora, vê o FMI propor a "sua" solução para a Grécia.» [Ele defende o mesmo para Portugal, p. 58, em entrevista]
«Vivemos a cima das nossas posses, gastando mais do que produzimos. É assim desde há, pelo menos, dez anos. Por isso, endividámo-nos. E muito. Os credores ainda não nos bateram à porta, mas começam a desconfiar de nós.» (sic) Visão, p. 55
Ontem vi um jornalista da SIC a fazer contas em directo sobre o contributo de metade do 13º mês da população activa portuguesa para atenuar o montante da dívida pública nacional: apenas seria possível atenuar 6,5 dias dessa dívida.
Há dias falava-se dos prémios escandalosos dos gestores públicos.
Há qualquer coisa em tudo isto de completamente inaceitável e profundamente injusto e escandaloso para todos os que não têm emprego e para os que vivem do seu trabalho e respectivo rendimento mensal.
Não são os funcionários ou os trabalhadores por conta de outrém, que apenas vivem da remuneração do seu trabalho que vivem acima das suas possibilidades. Quem paga às administrações das empresas públicas, dos bancos, das seguradoras? Como vivem estes senhores e senhoras?
Às vezes ponho-me a comparar todo este "gigantesco polvo" com a D. Branca, lembram-se?
São os mercados bolsistas que nos conduziram à crise em que actualmente se vive que agora vêm ditar as regras e pôr em causa a fragilidade dos sistemas que contribuíram para criar? Não há já princípios éticos? O dinheiro não tem cheiro nem cor?
Acabo de ler este artigo impressionante: «Os mercados são manipulados» - já nem se pode acreditar nas tão incólumes e "benéficas" leis da oferta e da procura que regulam os mercados... O que nos resta então? Quem tem medo de mudar?
P.S. - Desculpem-me, não percebo nada disto mesmo. Mas gostaria muito de perceber, sobretudo se a opção política e governamental for a de baixar salários ou a de cortar nos subsídios - penso sobretudo naqueles que têm rendimentos muito inferiores ao meu. Pessoalmente, e face às dificuldades do país, já há muito que me conformei com o facto de não poder ter a minha reforma ao fim de 32 anos de serviço e de 52 de idade, ao abrigo do contrato social (e laboral) que assinei com a minha entidade empregadora, o Ministério da Educação, há já 30 anos, ainda antes de todas estas mudanças que têm vindo a ser introduzidas no Estatuto da Carreira Docente. A manter-se a inoperacionalidade decisória para inverter tão vergonhosa e injusta situação financeira , penso que todos os que estivermos na mesma situação deveríamos começar a pensar seriamente em entregar esta questão a um bom advogado laboral.
[Se esta temática vos interessam e preocupam, leiam em seguida: http://abeirario.blogspot.com/2010/05/de-novo-portugal-sa.html]
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