segunda-feira, novembro 10, 2008

O programa Media Smart nas escolas portuguesas

Uma iniciativa que faz pensar e que será certamente interessante acompanhar.

Partilho convosco algumas questões que se me levantam ...

Onde páram as iniciativas realizadas há já alguns anos no âmbito da defesa do consumidor e da Educação para os Media?

Que atenção deverá dar o Ministério da Educação, na definição dos currículos nacionais, a este tipo de problemáticas?

O que significa esta dispersão de iniciativas?

Habituei-me a ver as empresas sempre com uma grande preocupação no lucro imediato, nas mais valias a curto prazo, sabendo nós que a educação e a sensibilização são "corridas de fundo", isto é, investimentos a médio e longo prazo, que ganhos trazem iniciativas no âmbito da "responsabilidade social" para o mundo empresarial?

O que mudou na sua forma de encarar os investimentos de curto prazo?


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O programa Media Smart nas escolas portuguesas

PÚBLICO, 10/11/2008 - Manuel Rangel
Iniciativa da Associação Portuguesa de Anunciantes, o programa está à disposição das escolas que queiram aderirLonge vai o tempo em que à escola se pedia apenas que ensinasse os alunos a "ler, escrever e contar", no sentido mais restrito desses termos. Hoje, aquilo que se lhe pede é bem diferente. Pede-se-lhe que encare os seus alunos como cidadãos de corpo inteiro, e para isso que a sua formação assente na compreensão do mundo e da sociedade em que vivem, para nela poderem intervir de modo mais informado, seguro, crítico e responsável. Ambição com longa história, esta visão alargada do papel da escola ganha maior e mais generalizada força com o famoso relatório de Jacques Delors, realizado para a UNESCO, e publicado em 1996, sobre a Educação para o Séc. XXI. Postulando que a educação de cada indivíduo assenta em quatro pilares fundamentais - aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver com os outros; e aprender a ser - a comissão responsável pelo relatório considera que a educação deve surgir como "um processo permanente de enriquecimento dos conhecimentos, do saber fazer, mas também e talvez em primeiro lugar, como uma via privilegiada de construção da própria pessoa, das relações entre indivíduos, grupos e nações". Em suma, o que se pede hoje à escola é que enquadre as aprendizagens instrumentais básicas num processo mais global, que é o da formação de um cidadão esclarecido, de pleno direito, capaz de entender o mundo, de o reinterpretar, de tomar opções e intervir sobre ele de forma própria e responsável. Mas à escola - lugar alvo, hoje, de tantos e tão exigentes pedidos - também se pede que trace, ela própria, o seu caminho, que encontre os melhores meios, que adapte programas e saiba gerir recursos, próprios e da comunidade, para cumprir tão ambiciosos objectivos. Que ela própria, promotora de autonomia, seja mais autónoma na procura de respostas para a complexa e abrangente missão que lhe cabe na formação desse cidadão idealizado. É na confluência destas duas perspectivas que se enquadra o programa Media Smart. Enquanto programa de literacia para a publicidade, o Media Smart constitui-se como um precioso instrumento pedagógico de domínio de uma linguagem com enorme alcance e influência sobre a vida das crianças e jovens actuais. Com ele se pretende que as crianças e jovens "desenvolvam competências para uma correcta interpretação das mensagens publicitárias", comerciais ou não; adquiram "ferramentas que as ajudem a compreender e interpretar a publicidade" e, sobretudo, "desenvolvam o seu sentido crítico em relação a essas mensagens, reforçando a sua capacidade de análise e desconstrução das mesmas". Roberto Carneiro, presidente do grupo de peritos que apoia a implementação do programa em Portugal, aquando do seu lançamento referia que "a publicidade torrencial, intrusiva, que invade o quotidiano da criança e do adulto é matéria que não pode continuar a ser ignorada na reflexão crítica que a escola quer - e deve - levar a cabo sobre a cidade contemporânea". Assim, "todo o investimento na escola e numa educação cidadã, verdadeiramente empenhada na formação de cidadãos livres, capazes de realizar escolhas criteriosas, com sentido crítico sobre a vida da cidade, dotados de competências básicas de interpretação autónoma dos fenómenos da complexidade comunicacional, numa sociedade cada vez mais mediática, tem de ser prioritário". Do ponto de vista "institucional", trata-se também de um programa inovador entre nós. Desde logo, na sua origem: o programa surge da iniciativa da "sociedade civil" e das suas organizações - no caso a Associação Portuguesa de Anunciantes. Surge, portanto, como um programa de "responsabilidade social", posto à disposição das escolas e professores que a ele queiram aderir voluntariamente e que o deverão adaptar ao seu próprio projecto e realidade (social e organizacional). Mas o programa é, ainda, inovador na perspectiva dos métodos e das actividades que propõe, dos materiais que disponibiliza e das ligações a que faz apelo (em especial, o apelo à participação dos pais e abertura à comunidade e à vida real, para além da escola).
O Media Smart é, pois, um convite e um desafio lançado às escolas e aos professores. Mas é também, e simultaneamente, um precioso apoio e suporte para todos aqueles que queiram tomar em suas próprias mãos a difícil mas aliciante tarefa de contribuir para a formação das novas gerações na perspectiva apontada. Tendo o programa por lema "Para um público esperto, um olhar mais desperto", tenhamos a consciência e convicção de que, ao contribuirmos para a criação de "públicos cada vez mais despertos", estaremos também a contribuir para ter, socialmente, "olhares cada vez mais espertos". Professor e Especialista em Educação Básica. Perito do Grupo Programa Media Smart

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