domingo, setembro 10, 2006

Mistérios insondáveis da burocracia...



A minha filha mais velha foi para Itália em ERASMUS, durante um ano! Deixou-me uma procuração para tratar do que fosse necessário: no banco, na Faculdade, nos CTT, ... o que se costuma fazer em situações como esta! ... Até aqui tudo normal. Antes da partida, foram idas ao notário para saber o que era preciso: que a procuração tinha que ser escrita à mão presencialmente, que tudo tinha que ficar muito bem especificadinho e, por fim, a assinatura seria reconhecida com os carimbos e os selos brancos a que a legalidade, e quem se quer manter dentro dela, obriga. Fez-se! ... e a rapariga partiu para Itália descansada, pensando que estaria tudo em ordem e que as incumbências que me deixara estavam facilitadas! ... também eu pensava assim!

Na primeira oportunidade que tive fui ao Banco, à CGD, para tratar de mostrar a dita procuração, para que ficasse registada e para lá deixar uma cópia onde quem está por trás do balcão pudesse confirmar que estava conforme o original. Pensava eu que assim ficava tudo regularizado e em ordem!

Pois, mas não foi assim que aconteceu! ... :-(
Quando a funcionária que me estava a atender foi confirmar com a sua chefe se eram estes os procedimentos, esta veio prontamente esclarecer que não podia ser assim, que eu tinha que deixar no banco uma fotocópia autenticada da dita procuração! ... Que não tinham poderes para confirmar que a fotocópia que ali tinha sido feita, a partir do original, estava conforme, que era uma regra jurídica inultrapassável numa situação como esta! ... Não é necessário confirmar que eu estava devidamente identificada, com o meu BI, como é normal nestas ocasiões. ... o que costuma ser suficiente para identificar quem quer que seja no nosso país perante as autoridades ou qualquer outra entidade.

Depois de ter feito um discurso sobre o princípio da desconfiança no funcionamento das instituições no nosso país face aos seus próprios clientes, utilizadores, conformei-me. Peguei na procuração e dirigi-me ao posto dos CTT mais próximo para fazer uma cópia autenticada da dita. Claro que obtive na hora a referida autenticação, que paguei 17 Euros, que foi apensa uma folha à fotocópia da anteriormente referida, onde a funcionária preencheu a data em que foi feita e o notário em que tinha sido realizada. A funcionária dos CTT nem solicitou a minha identificação. Ficou tudo prontinho para voltar ao banco e para entregar a referida cópia agora autenticada. Zelo a mais do banco? Das funcionárias? Porquê tanta desconfiança?

Mais uma vez se confirmou como o princípio da desconfiança impera no funcionamento e nas relações entre as organizações e os seus clientes no nosso país através de regras cegas e sem qualquer sentido! Paguei 17 euros, perdi mais tempo, tenho que voltar ao Banco, ... nada disto conta para quem regula e trata destes assuntos?

E por fim, pergunto: por que é que a funcionária dos CTT tem mais poderes na certificação da validade dos documentos do que as funcionárias do meu banco de sempre?

Alguém sabe dar-me uma explicação?

Escrevo este episódio para que no meu país passemos todos ser tratados como gente e não como meros papéis que andam de repartição em repartição ou de balcão em balcão!!

P.S. - O contraste com o que diz o governo do país «à beira mar plantado»: http://www.negocios.pt/default.asp?SqlPage=Content_Empresas&CpContentId=273575

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