domingo, maio 08, 2016

Ainda o Acordo Ortográfico: sou a favor!!

O meu bisavô escrevia "Salles Henriques", o meu avô, um homem cosmopolita e republicano, passou a escrever "Sales Henriques" e foi assim que herdámos, na nossa geração, o nome de família materno, com muito orgulho. Ainda esta semana me perguntaram se "Sales" se escrevia com dois "ll", respondi que não, que farmácia também tinha deixado de se escrever com "ph" há muito tempo ... smile emoticon ... sei bem que seria muito mais "chique" manter a grafia antiga, mas o que nos acrescentaria isso à nossa identidade, aos nossos seres?
Escrevi num comentário, hoje, no Facebook: Há muito que considero que todos os atos que pratico diariamente são políticos. É exatamente por ser a favor de uma escola para TODOS, e reconhecer que o domínio da língua escrita possibilita a afirmação do poder individual de cada um, em associação, ou não, com outros/as, que considero que o AO 90 pode facilitar "a emancipação" (como dizia, e fez, Paulo Freire no Nordeste do Brasil) de mais cidadãos e cidadãs portuguesas. Acredito na ciência e na opinião de muitos linguístas (estudiosos desta área) que o propuseram e o defendem. 
Acho graça que esta discussão só tenha vindo à superfície, depois do prazo estabelecido para ela, mais de dez anos, ter terminado. Ou seja, depois do prazo de discussão ter sido completamente ultrapassado e de todos/as que não se dignaram a participar quando o poderiam fazer, se verem então, "por via da lei", obrigados a "desaprender" o que tanto lhes tinha custado a automatizar.
Todo este processo mostra muito sobre como nós portugueses, em geral, lidamos com as possibilidades que temos de participação na nossa vida coletiva, para depois virmos dizer que houve uma imposição do legislador ou do governo. 
Todos estes desenvolvimentos mostram muito sobre como lidamos com a mudança (capacidade que temos para "desaprender" o que aprendemos), com o dever de participação cívica e de manifestação que temos nas questões que nos preocupam da nossa vida coletiva (o que expressa afinal a identidade da nossa língua?) e com a autoridade (a científica e a política). Há muito que escrevo sobre isto e procuro estar informada.
Nada tenho contra a diversidade de manifestações linguísticas ou de grafias, nem acho que nos devamos andar a policiar uns aos outros - uma Norma, é sempre uma Norma, apenas. Nada mais do que isso. Sou pela pluralidade e pela diversidade.
Outros posts sobre este assunto: AQUI.

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