sábado, julho 12, 2014

A Escola VS "os guardiões de templos"

Vivemos no meio da hipocrisia dos "guardiões de templos", sejam eles quais forem, quer sejam eles os da moral e bons costumes, quer sejam os da correção ortográfica ou ainda os da correta expressão matemática (como se existisse apenas uma matemática, a matemática escolar). Sinto um enorme desconforto relativamente a tudo o que conduza a uma visão única, uma visão "eurocêntrica": os que fazem bem e o sabem fazer, e os que fazem mal e não sabem fazer. São os "guardiões", os "donos", da "epistemologia do norte", que se arrogam como detentores da verdade, contra as "epistemologias do sul", de que falava esta semana Boaventura Sousa Santos (2014) (ver abaixo).

A escola e muitos professores têm uma especial apetência para se assumirem como "guardiões do templo" de uma cultura (e também de interesses) dominantes, como nos tem mostrado a sociologia da educação desde a década de 70, do século passado. Não me ponho de fora, de modo algum. Apenas procuro manter-me lúcida e eleger alguns fatores que me ajudem a manter a clarividência, quer através da minha experiência, quer através do que outros têm escrito e estudado. A forma como se lida com a ortografia na escola, ainda mais depois do novo acordo ortográfico e de toda a discussão que se tem gerado à sua volta, do meu ponto de vista, ilustram bem esta questão, a sempre assumida necessidade (por parte da cultura escolar) da solução correta e única, como que a dizer quem pode ficar "dentro" (quem pode pertencer ... vá-se lá saber a quê?!?) e quem deve ficar de "fora" (quem não tem ali lugar, quem deve ser descriminado ...). Será esta uma necessidade da sociedade em geral? ... como a sociedade não é uniforme e é composta por diversos grupos sociais, esta forma de atuar serve que grupos sociais?



Mais uma vez vem isto a propósito de um "Ai!! que horror!", por ter escrito "facto", de acordo com a grafia do Brasil, sem o "c". Para mim, enquanto professora, mais do que a correta ortografia - neste caso concreto até existem as duas grafias - o que está em causa, e me choca, é a não aceitação da possibilidade de convivermos com mais do que uma "verdade", a necessidade expressa da existência de "um certo" e de "um errado", único, como se a escola se reduzisse a essa função certificadora de verificação, de marcar "certos" ou "errados" (um papel mesquinho e pequenino), esquecendo o seu papel educativo maior, como espaço de socialização que é. Um espaço social onde convivem muitos e muitas, com origens sociais e culturais várias, onde se pode aprender tanto com a riqueza da diversidade de uns e de os outros - não será esta uma escola muito mais interessante, desafiadora e motivadora para tod@s? Para os alunos e as alunas, para os professores e as professoras, para as famílias, para os/as auxiliares (assistentes operacionais), ...?

Os exames, os programas, conduzem-nos diretamente à "redução", à pobreza cultural da escola. Somo nós "Educadores", na verdadeira aceção da palavra, que devemos ser os principais resistentes a este "Back to basics", a esta consistente "redução" das políticas utilitaristas e neoliberais que nos querem impor e nos (des)governam.


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