domingo, abril 06, 2014

Os lutos / The mournings

Fazer o luto: chorar os que partem, o que se "parte" em nós

Há alturas das nossas vidas em que ligamos o "modo de sobreviventes". Em que por uma razão ou por outra temos medo de entristecer, de chorar, de fazer os lutos necessários: ou porque não queremos que os outros assistam às nossas fagilidades, ou porque queremos proteger os mais novos (filhos pequenos), ou mesmo os mais velhos (os pais), ou simplesmente porque não sabemos fazer de outra maneira ... Ando a aprender a fazer os meus lutos, a chorar os meus mortos, a entristecer. Já percebi que é uma forma de "pedir colo", um ombro amigo, ... é nestas alturas que se reconhecem outras coisas boas, outras alegrias: os verdadeiros amigos e amigas, aqueles que se emocionam conncosco, que partilhando as nossas emoções, nos amparam.
Lembro-me de como foi difícil a partida do meu irmão (o seu "nascimento no céu", como dizem os meus amigos ortodoxos); como ele sofreu e nós com ele, durante tantos anos; ficou-nos a nossa incapacidade de lidar com a doença mental, a impotência(!!) e a saudade, mesmo sabendo que ele não conseguia sofrer mais ... que atingiu o seu limite. Como terá sido dificil para o meu pai e para a mim mãe ver partir um filho antes deles - contra a ordem natural ... E já passaram tantos anos ... mais de vinte!! As filhas que então tentei proteger já cresceram e têm a sua vida própria e autónoma. Nessa altura, foram elas que me puxaram para a Vida: era preciso que almoçassem, que jantassem, que dormissem cedo, ... como elas brincavam e corriam pelo pátio da capela, no meio da tristeza, como que a dizer-nos a todos, ali, que a Vida se faz de nascimentos e de mortes, de tristezas e de alegrias, ... , que para sentir umas, precisamos de sentir as outras. Choremos pois os nossos mais queridos que partiram e que partem - não somos máquinas, somos "gente de carne e osso", com todas as fargilidades e forças que esse fato comporta.

Aprendi recentemente com Marcia Karp (reconhecida psicodramatista inglesa): "Só gostando verdadeiramente de mim, poderei aceitar com a mesma ternura as minhas alegrias e as minhas tristezas."
P.S. - E como ainda tenho tantas lágrimas por chorar, que me vão caindo, ao correr desta escrita ... ainda a aprender.

The mourning: to mourn those who leave, what part of us was broken
There are sometimes in our lives that we must live in "survival mood". There are different reasons for it: some times we are afraid to become sad, to cry, to do the needed mourning: because we don't want that other seen our weeaknesses, or we need to protected the chldren that live near or even the eldest ... I'm starting to learn to do my mournings, to cry my deads, to become sad. I already learned this a form of "asking lap" or for a friend shoulder ... this is when we can recognize other good things, other joys: the friends, the true ones, those with whom we can share our emotions and at the some time support us.
I remember how hard were the times of the departure of my brother (his "birth in heaven," as my Orthodox friends call death) - he was only 26. How he suffered and we with him for so many years; we learned about our inability to deal with mental illness, our impotence (!) and "a SAUDADE" (the missing!). We knew he could not suffer anymore ... He reached his limit.
How it must be difficult for my dady and my mom to live the departure of a son before their own departures - this was against the natural order of things ... And it already happened so many years ago ... over twenty! My daughters, who I tried to protect at that time, are now grown ups and very independent. At that time, they were what pulled me to life: they had to have lunch, to have dinner, to sleep early ... how did they played and ran through the courtyard of the chapel, in the midst of all sadness ... as if they were there to tell us all that Life is made of births and deaths, joys and sorrows , ... , to feel one, we need to feel the other. Let's cry over our beloved deads, those who leaved or are leaving, we are not machines, we are human beings, we are made of "flesh and blood", with all our weaknesses and strengths.

Sharing what I recently learned with Marcia Karp (an English recognized psychodramatist): "Only loving really myself, I can accept with the same tenderness both my joys and my sorrows."

P.S. - And how I still have so many tears to cry, they are falling during these writings ... still learning.






1 comentário:

João Mano disse...

Boa Mana! Se há infinito, mede-se em saudade. As fotografias da Ribeira são lindas.