sábado, julho 13, 2013

Em memória de Paulo Abrantes



Hoje (12/7/2013), foi organizado no IE - UL, uma jornada em memória de Paulo Abrantes. Não pude estar da parte da manhã, mas estive da parte da tarde e foi muito comovente para mim.

Começou pelo encontro dos muitos amigos que já não via há tantos, tantos anos ... que melhor nos pode acontecer do que sermos acarinhados pelos amigos?!

Depois foi o relembrar o Paulo Abrantes, através dos vários testemunhos de quem com ele trabalhou muito de perto e participantes no simpósium que se realizou da parte da tarde, moderado por Joana Brocardo:

- o Eduardo Veloso, que partilhou o trabalho que realizaram em conjunto, desde que se encontraram no mesmo grupo de mestrado no Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, passando pelos projetos "MAT 789" e "Matemática para todos", vários encontros e seminários, diversos acordos e desacordos, ...; sublinhou várias ideias importantes das quais retive: a construção coletiva realizada em conjunto, num trabalho árduo e sistemático, na procura de chegar a um ensino da matemática que chegue a todos e que seja para todos - "a importância de aprender matemática como se aprende música!"; outra foi a ideia forte de Dewey, muito presente ao longo de todo o trabalho que foram realizando, de que a educação não é a preparação para o futuro, a educação é o que se vive já hoje, no presente;

- Leonor Santos, se bem compreendi, mostrou-nos como as ideias que tinham começado a trabalhar no projeto MAT 789 foram sendo aprofundadas e considerou três tipos de dimensões: (i) a avaliação interna - aquela que é parte integrante do processo de aprendizagem e que está ao serviço deste, formando, com as restantes dimensões deste complexo processo, um todo coerente (a avaliação formativa e avaliação formadora); (ii) a avaliação externa (ou sumativa) - as provas do ministério ou os exames; (iii) e ainda a dimensão normativa, a legislação. Esta investigadora mostrou como a legislação de 2001 se centrava na avaliação no processo de aprendizagem dos alunos, por contraponto à atual legislação (de 2012) que passou a focar-se no ensino, nos conteúdos e nas metas - como se fossem os conteúdos (e a sua acumulação) o mais relevante do processo de aprendizagem dos alunos ... . Como dizia Leonor Santos, até parecia que as datas da legislação estavam trocadas ... ;

-  João Pedro da Ponte, referiu como para Paulo Abrantes os professores eram (são) um elemento essencial na construção do currículo que vão trabalhar com os seus alunos, que a ideia de "currículo à prova de professor" é completamente irreal e desatualidade (uma concepção anterior à década de 70 do século passado); mostrou-nos várias exemplos trazidos da investigação, como os professores têm desenvolvido com os seus alunos atividades exploratórias, na área da álgebra, desde o 1.º Ciclo do Ensino Básico - experiências bem interessantes e muito consistentes;

- Ubiratan d'Ambrosio (um muito querido professor e amigo meu, também), em vídeo conferência, a partir de São Paulo (BR), falou-nos da relação entre a matemática e a realidade, a ideia do trabalho em projetos, tão cara a Paulo Abrantes; explorou a necessidade de abrirmos as "gaiolas epistemológicas" (os espaços fechados das áreas do conhecimento, das áreas disciplinares) para explorar fronteiras adjacentes e sermos mais livres, aprendermos a falar diferentes linguagens e a melhor compreendermos diferentes mundos, para assim conseguirmos encontrar melhores soluções para os problemas da atualidade.

No final, como dizia Ana Paula Canavarro, Paulo era "um homem de crer ..." que acreditava nas pessoas, no que fazia,  e "um homem de querer", um homem de vontade(s), ... e terminámos com uma grande ovação, uma grande salva de palmas.

Foi um encontro muito emocionante, nomeadamente pelos duros e dífíceis tempos que vivemos, em que, como ficou bem patente, se está a destruir uma construção de muitos anos no nosso país, a da escola democrática e para todos, que se vinha fazendo desde o 25 de abril de 1974.


[Última atualização às 12h42, 13/7/2013.]

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