"(...) A esta economia do cuidado também chamamos "sociedade providência", porque em Portugal ela sempre teve de colmatar as fortes lacunas do Estado providência que, ao contrário do que clama a direita, foi sempre fraco e sempre se apoiou na proteção social a cargo das famílias. Um dos efeitos perversos da crise é fixar as mulheres no trabalho não pago e fazê-lo com um apelo às virtudes dos papéis tradicionais da «dona de casa».
As mulheres, que suportam um fardo desigual quando a austeridade imposta pelo neoliberalismo desaba sobre as famílias, sabem bem que a solução é lutar por um outro modelo económico que elimine as causas do fardo: redução drástica dos orçamentos militares, reconhecimento de outras economias baseadas na reciprocidade e na dádiva, serviços públicos eficientes, tributação progressiva, direitos de cidadania eficazes, incluindo os direitos reprodutivos e sexuais, que libertem as mulheres do jugo do sexismo e do fundamentalismo religioso (católico ou muçulmano)."
Artigo completo e referência:
Sousa Santos, B. (2012). As mulheres, a crise e a pós-crise. In Visão, nº 1000, 3 a 9 de maio, p. 40
P.S. - O título do post foi dado por mim.
1 comentário:
O Boaventura ao poder.... já!
A gora a sério.
Este é dos pensadores sociais mais brilhantes de Portugal!
Beijinhos,
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