domingo, outubro 03, 2010

«Ah, abram-me outra realidade!»

Este título inspirou-me para o meu post deste fim-de-semana, depois de ler em diagonal as notícias que me chegam do pequenino país onde nasci, na Europa, em Portugal, onde nasceu Fernando Pessoa, esse grande poeta que tem como pátria a língua portuguesa:

De Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa)

Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.
Quero encontrar as fadas na rua!
Quero desimaginar-me deste mundo feito com garras,
Desta civilização feita com pregos.
Quero viver, como uma bandeira à brisa,
Símbolo de qualquer coisa no alto de uma coisa qualquer!

Depois encerrem-me onde queiram.
Meu coração verdadeiro continuará velando
Pano brasonado a esfinges,
No alto do mastro da visões
Aos quatro ventos do Mistério.
O Norte — o que todos querem
O Sul — o que todos desejam
O Este — de onde tudo vem
O Oeste — aonde tudo finda
—Os quatro ventos do místico ar da civilização
—Os quatro modos de não ter razão, e de entender o mundo

4 - 4 - 1924

In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2241

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