segunda-feira, março 19, 2012

"Dar asas ..." [ ou Acreditar ...]


Como escrever sobre uma experiência quase inexplicável? ... foi o assistir a uma conversa a dois, entre o Prof. Ubiratan D'Ambrosio, e um artista plástico e líder comunitário, Hermes Sousa, na Bienal de São Paulo [10/10/2010]. O primeiro, professor universitário, envolvido nos movimentos mundiais de cientistas ligados à necessidade de sensibilizar os líderes políticos do planeta para os limites da ciência e para as loucuras que podem ser cometidas através de políticas desenfreadas de armamento (Declaração de Pugwash, 1955), lançou também o conceito da etnomatemática - a matemática do outro, do quotidiano, do não escolarizado (há mais matemáticas para além da matemática escolar), foi ainda assinante do Manifesto da Transdisciplinaridade. O segundo, nordestino alfabetizado, que chegou cedo na vida a São Paulo fugindo da seca e da pobreza, começou ganhando a sua vida a ler e escrever para os que não o sabiam fazer, para que estes pudessem comunicar com as suas famílias. Foi toxicodependente e preso durante uma década, seropositivo. Falou de como foi através da arte que se libertou da prisão e da sua dependência de substâncias químicas. E também de como foi através da arte que conseguiu sobreviver a uma crise crónica de AIDS, tornando-se num fundador de várias oficinas de arte em diversos estabelecimentos prisionais e noutros de recuperação de crianças e jovens delinquentes. Agora vive numa comunidade de favela, junto a uma grande lixeira, na grande São Paulo, onde procura trabalhar com aquelas crianças e jovens em projectos diversos. Foi a arte e a fé que o ajudaram a superar todas estas provas. Ambos acreditam na importância do AMOR. O Prof. Ubiratan falou também de como nos deixamos "engaiolar" nas diversas disciplinas do conhecimento, como nos deixamos conformar, como deixamos aprisionar a nossa criatividade. Segundo ele o mais importante para os jovens e para os estudantes que o acompanham é dar largas à sua criatividade, dar-lhes asas para voar. Foi também a criatividade que deu asas àquele outro grande artista.
Foi emocionante, aquela conversa!

[Primeira publicação aqui: 15/10/2010; Actualizada e republicada no Dia do Pai de 2012; hoje dei-lhe um outro título: "Dar asas..."]

6 comentários:

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Ora aí estão exemplos de vida que servem de exemplo...:-) nobres me parecem ser estes senhores, nem que fosse apenas pelo "acreditam no AMOR"! Bela partilha, obrigada!

Eunice disse...

É o nosso dia a dia! Acreditar!
Um grande grande beijinho
Eunice

Margarida Belchior disse...

:-)

Beijinhos para as duas!

Anónimo disse...

Belchi

Podia dizer que tinha acordado com saudades tuas mas foi mesmo a necessidade de apagar mails porque a caixa de correio estava cheia que me fez vir ao teu blog. Não podia apagar sem te colocar nos favoritos. Tenho saudades tuas- A conferencia deve ter sido desafiante. Essa capacidade do olhar dos outros nos surpreender é de facto o melhor que a vida nos pode dar e fundamenta todas as paixões certo? No teu texto e na conferencia de facto o que acho fascinante é o ultrapassar fronteiras do olhar é enriquecer o saber universitário com o saber das favelas, é compreender como nos fechamos em tantas caixas quando no mundo Deus está tão mais à frente a mostrar que há tantos caminhos para op mesmo objectivo. Adorava ter visto embora adorar só se deve
adorar mesmo é a Deus, parece...
: ) A coleguinha Luísa Ramos de Carvalho e depois explicas-me como faço um blog identidade

portugalnocoração disse...

tanto ainda por descobrir na (in)eficácia da aprendizagem! gosto sempre de ouvir os que estão de "fora" boa semana

mfc disse...

É preciso que haja mais gente assim!
O mundo seria seguramente melhor.
Beijinhos.