Ontem estive num seminário Internacional promovido pelo Observatório do Plano Tecnológico da Educação (OPTE) onde alguém lembrou que havia uma gente, que já anda nestas andanças das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) na Educação desde os tempos do Projecto MINERVA (há mais de 25 anos), chamando-lhes «Índios MINERVA». É um grupo no qual me incluo, tal como o autor da expressão, evidentemente, também se incluí.
Fiquei a pensar nesta carinhosa designação e no que ela significa simbolicamente: em como os índios estão atentos às suas tradições e aos saberes mais antigos, como estão atentos aos sinais dos tempos e procuram compreender o que se passa à sua volta, aprendendo com os erros e com o que corre mal, como a sua relação com o mundo natural é tão importante e os ajuda a viver de modo mais integrado e equilibrado.
Pensei como seria interessante, que no nosso país - um pequeno país onde se situa o ponto mais ocidental da Europa, facto que nos permite chegar mais depressa ao continente americano (quer seja a América do norte, quer seja a América do sul) - que aprendessemos com os índios ...
... a não esquecer as boas tradições que fomos construindo de trabalho em conjunto neste domínio, entre professores, escolas e investigadores, e que tem sido inspirador de vários programas de formação contínua que estão actualmente no terreno (uma das importantes aprendizagens feitas exactamente com o Projecto MINERVA, Ponte, 1994)). Foi em conjunto que aprendemos a lidar com as mudanças, com o desconhecido, com a Inovação.
... aprender com as limitações do trabalho efectuado e a tirar ilações para o futuro - lembro os mais recentes projectos INTERNET@EB1 (Figueiredo et al, 2004; Ponte et al, 2006) e o CBTIC@EB1 (Ponte et al, 2007), que sendo dirigidos preferencialmente aos alunos do 1º ciclo do ensino básico (CEB), não levaram mais longe os investimentos realizados, tal como foi explicitado nas avaliações externas de que foram objecto: por dificuldade em envolver os professores, as direcções dos Agrupamentos e também muitas autarquias; por o currículo nacional, nas suas diferentes áreas disciplinares não incluir de forma mais clara as TIC e os respectivos contributos para as aprendizagens dos alunos; pela falta de reconhecimento dos formadores ...
... reconhecer o trabalho e organizar os recursos digitais disponibilizados on-line por diversas entidades neste domínio ...
Toda a gente diz que o país não é rico, que estamos a atravessar uma fase de grande penúria e por isso temos que viver com o que existe! ... tudo o que foi feito até agora, embora em contextos mais reduzidos e de forma não massificada, não pode ser deitado «borda fora», faz parte do nosso património comum, enquanto país. Os programas que foram mais extensivos no âmbito das TIC na Educação, anteriores ao PTE, foram exactamente os direccionados para o 1º CEB e que acima referi. E o que se aprendeu com eles que fosse integrado no e-escolinhas, vulgo Magalhães? ... Dá a impressão que relativamente a este ciclo do ensino básico se anda sempre a fazer a pontaria errada ... oxalá esteja enganada e que o estudo que vai ser iniciado no âmbito do OPTE nos possa mostrar o contrário, mas quem tem andado pelas Escolas e falado com colegas, sabe o que se está a passar com os Magalhães ...
Foi muito interessante ouvir os peritos internacionais com novas ideias e explicitarem o seu pensamento divirgente, estimulando a nossa criatividade e novas formas de fazer, já os seus contributos sobre o que foi feito, nomeadamente sobre aquilo que se costuma chamar recursos educativos digitais (RED), foi completamente deslocado e revelador do desconhecimento do que até ao momento foi feito no nosso país.
Enquanto cidadã e professora, penso que teremos muito a aprender com os índios, tanto mais que poderá ser uma aprendizagem que pode contagiar outros domínios do nosso país. É nesta interacção entre os «índios ansiãos» e os «jovens índios principiantes» que se vão potenciando os investimentos e que se vai construindo o país.
Haverá outra forma de o fazer? ...
2 comentários:
Olá Índia...
Eu não me posso incluir nessa classe de índios, talvez apenas nos do Nónio Séc. XXI. No entanto conheço muitos e foi com eles que aprendi muito do pouco que sei...
Hoje acredito que, neste campo, como em todos os outros precisamos de equipas multidisciplinares que integrem diversos saberes e experiências. Nunca acreditei em salvadores da pátria nem em génios que sós resolvessem fosse o que fosse. Acredito na troca de ideias, no debate, no planeamento sustentado a longo prazo sem passarmos o tempo a olhar para a roda da bicicleta!
Hoje também passei pela Futurália... Vi muitos espaços PTE e estranhei estarem tão vazios... Não sei se foi apenas uma opção estética!
Olá Margarida,
claro que há outra maneira e... está nas nossas mãos!!
Gostei de te ler e estou convencido que será na filosofia do Minerva que se encontrará a resposta aos desafios maiores que, agora, com as escolas equipadas, verdadeiramente se colocam.
Caso contrário, que desculpas darão aqueles que têm essa responsabilidade?
Beijinho
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