Diziam: «Em vez de estarmos cada um a trabalhar para seu lado, talvez uma plataforma nos ajude a ver e perceber melhor o que cada um anda a fazer para nos irmos ajustando e, a pouco e pouco, irmos trabalhando em conjunto».
O líder desta iniciativa dizia: «Não conheço muito e tenho trabalhado pouco com o MOODLE, mas se podemos ter um espaço de trabalho, entre nós, para a turma... alguma coisa nos há-de ajudar a melhorar os resultados escolares dos alunos... »
Perguntei: «O que é que cada um de vocês costuma fazer com o computador? ... para a Escola e sem ser ...? »
As respostas foram as seguintes:
- 6 professores usam para comunicar através de mail com familiares que estão no estrangeiro e para fazerem os seus textos «com melhor apresentação»;
- 1 tem um blog pessoal; usa o mail; faz pesquisas e comunica com os alunos através da net: mail e MSN; também prepara os materiais para as aulas: guiões, fichas, testes, registos e mapas de organização...
- 2 só utilizam o computador para fazerem os testes «com melhor apresentação».
Perguntei então: «Vocês querem ter um espaço de trabalho conjunto, como se fosse uma grande sala de aula, tipo "open-space", em que cada um tem o seu "cantinho" com as suas mesas e cadeiras de trabalho, com os seus materiais de apoio e recursos necessários, e em que cada um de vocês deixa os materiais e as propostas de trabalho para os alunos? e ainda também em que cada um de vocês vê o que os outro colegas andam a fazer? ... isto é, o mesmo espaço para vocês professores da turma e para os alunos, em que vocês têm as permissões necessárias para colocar lá as actividades e os materiais ... o mesmo é dizer, que têm o poder de organização? Se for isto parece-me uma ideia interessante ... »
Respondeu o líder: «Essa ideia é muito gira, mas aquilo em que eu tinha pensado, era um espaço só para nós professores: um espaço em que vamos colocando os materiais e os planos de trabalho com os alunos, para todos poderem espreitar o trabalho dos colegas e depois aqueles que são docentes das áreas curriculares não disciplinares poderem articular melhor com o trabalho das disciplinas ...»
Pergunta minha: «E como é que essa estratégia beneficia os alunos ...?»
Resposta de uma das outras professoras: «Nós começamos a trabalhar mais em conjunto e isso, de certeza, que vai beneficar os alunos ...»
Voltei a questionar: «Mas o que vos parece a ideia que lancei em primeiro lugar? ... não acham que para os alunos, e para vocês mesmos, pode ser uma ideia mais próxima de um real trabalho articulado? ... eles perceberem que vocês vêem o que uns e outros vão fazendo, quer ao nível das propostas e dos materiais dos colegas, quer ao nível das produções dos alunos? ... e podem também ter sempre um espaço mais privado, só vosso, em que os alunos não entram, e onde ficam registadas todas as vossas interacções a distância ...um espaço facilitador da comunicação e de trabalho só entre vocês...»
Surgiu logo uma pergunta de outra professora : «E o meu espaço de trabalho mais privado e de cumplicidade com os meus alunos? ... o que me vale é que continuo a ter as minhas aulas presenciais, porque se fosse tudo só a distância, eu precisaria de ter um espaço apenas meu e dos meus alunos ... »
Dirigi-me a outros colegas: «E o que pensam os e as restantes colegas?»
Disse um: «Eu acho uma ideia muito interessante, a que deu ... e gostava de experimentar.»
Uma colega mais reticente: «Eu não percebo bem do que estão a falar ... mas acho que preciso de vencer este desafio das TIC e se tiver sempre alguém por perto, que me vá dando uma mãozinho, assim como assim, os materiais e as fichas já os vou trazendo numa "pen" para os imprimir cá na Escola...»
Outro colega: «Acho que podia ser muito interessante e gostava de me meter num desafio desse tipo ... é como se fosse uma "sala de aula do futuro" ... e depois continuamos sempre a ter as aulas presenciais para termos uma relação mais directa e de maior cúmplicidade com os alunos...»
E uma colega que oferece muitas resistências à utilização das TIC: «Não percebo esta moda das TIC para aprender e para que as pessoas aprendam mais e melhor ... o desenvolvimento tecnológico tem trazido alguma melhoria à qualidade de vida e à felicidade das pessoas? ... veja-se o stress em que todos andamos, o aquecimento global, a insegurança na rua e à noite? ... já nem se pode sair ... os alunos escrevem cada vez pior, fartam-se de copiar e plagiar trabalhos ... e como é que se encontram fontes fidedignas através na Internet? ... digo-vos sinceramente, não percebo estas novas modas, nem as mais valias que elas nos trazem...»
Fez-se silêncio. Esta intervenção caiu que nem um balde de água fria no meio daquela conversa ...
Pensei:«Ao menos esta teve a coragem de expressar o que sente e o que pensa!» ... Depois interroguei-me: «Mas será possível que ainda hoje haja pessoas que oferecem tantas resistências a utilizarem estes recursos - pessoas que são professores - que escrevem e pensam ... profissionais do conhecimento, da escrita, da comunicação, da produção cultural ...?? ... algumas razões terão certamente e muitas delas não serão visíveis à vista desarmada ... mas ... vou ter que pensar melhor neste assunto e no porquê desta situação... »
O que respndi: «Não precisamos de ter uma resposta hoje ... podemos ficar a pensar ... peço-vos então o seguinte: até de hoje a 8 dias, escrevam-me um mail, cada um de vocês, com argumentos a favor e argumentos contra as ideias que apresentei ... reencaminhem também esse mail para todos os restantes colegas deste Conselho de Turma ... pode ser? ... e depois daqui a 15 dias decidimos então o que vamos fazer ... acham bem assim?»
Caras de entusiasmo, caras de suspensão e caras de alfição à minha volta ...
«Escrever um mail? ... Como é que isso se faz?»
Houve logo quem encontrasse a resposta: «Pois é, é mesmo a esse nível que temos que começar a trabalhar em conjunto e a apoiarmo-nos uns aos outros ... eu estou disponível para ajudar quem precisar!»
«Ficamos então assim?» perguntei ... pelo cansaço ou por não haver alternativa, foi aceite a minha proposta e já com alguém disponível para ajudar quem precisasse, para se dar o ponta pé de saída.
P.S.1 - É fantástico esta possibilidade de ir às Escolas e de perceber exactamente o que se passa ... e as questões que as pessoas colocam... temos tanto para aprender uns com os outros ... e eu que perdi todos os meus receios e hesitações relativamente à escrita depois de ter começado a usar o processador de texto ... que dificuldade tenho em lidar com estes "resistentes"...
P.S.2 - Este é apenas, e só, um relato ficcionado, "inspirado" numa formação de professores em que participei.
1 comentário:
Mas que grande relato! Bjs
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