quarta-feira, abril 25, 2018

25 de Abril, Provas de Aferição e Exames

A - Quando se chega a esta altura do ano e se gastam dias de trabalho de vários professores por conta da organização das provas de aferição, fico sempre a interrogar-me sobre os custos benefícios, para os alunos, deste tipo de despesas do OGE.
Não são só os professores das escolas que gastam o seu tempo com a organização local para a realização destas provas. É toda a "máquina" que está montada, na preparação das provas (conceção, arranjos gráficos, impressão, feitura da regulamentação, impressão e preparação da distribuição), na realização efetiva da sua distribuição (é mobilizada a PSP e a GNR, por esse país fora), o apoio e acompanhamento à realização das provas, a inspeção geral de educação que acompanha e monitoriza tudo, as salas disponíveis para esse efeito, os professorea avaliadores, os professores supervisores, os classificadores, ..., ...,
E se este orçamento fosse antes investido em benefício de alunos com dificuldades de aprendizagem, em educação artística, em turmas menores, em projetos de articulação interdisciplinar, ..., ..., ... ?!????



B - Estar em Abril, neste "dia limpo e inteiro" e ter como pano de fundo as "Provas de Aferição" no Ensino Básico, os exames, é sentir os mecanismos de controlo e de exclusão social dos tempos de 24 de abril de uma forma dolorosa, inadmíssivel, quase como uma tortura.
Não há justificação que valha!
No dia 26 de abril de 1974, saí à rua contra os exames, fui a reuniões, fui a manifestações. Tinha 15 anos, então, e tinha a perfeita consciência que os exames em nada me ajudavam a aprender. Comecei a trabalhar como professora, em 1980, e ainda se sentia o "cheiro" destes mecanismos de controlo através do medo das inspeções nas escolas, mas não havia já os exames da 4.ª classe, de má fama, que para além de avaliarem os conhecimentos, avaliavam também as consciências, controlavam-nas.
Haverá melhor forma de prestar contas sinceras e honestas aos nossos alunos, aos seus pais e a toda a sociedade, do que o trabalho quotidiano de aprendizagem que desenvolvemos nas nossas salas de aula, nas nossas escolas? Não será esse o trabalho que a Inspeção Geral de Educação deve verificar?
Não precisamos de provas de aferição, nem de exames!!
Não somos seres inteligentes e não sabemos inventar e criar outras formas de "mostrar" e de provar o valor do nosso trabalho? Formas que se baseiem na construção cultural, intelectual e artística conjunta, que fazemos todos os dias com os nossos alunos?
É este o nosso trabalho de educadores e professores! É um trabalho de médio e de longo prazo, tal como as corridas de fundo. É um labor em que acreditamos no potencial em desenvolvimento de cada um dos seres que temos na frente, e no grupo como um todo - um recurso inestimável para a aprendizagem de cada um (Niza, 1998).
Um trabalho que recomeça todos os dias, de forma igual ou diferente, consoante as necessidades, mas acreditando sempre! Acreditando que, todos, alunos e professores, conseguimos ir melhorando, desenvolvendo projetos, conhecendo os currículos, o que neles interessa e é significativo, importante, APRENDENDO! Só assim as Escolas se tornarão verdadeiras comunidades de aprendizagem, comunidades de construção social e cultural.
Não precisamos de provas de aferição, nem de exames!!
Não se educa na desconfiança! O pressuposto subjacente às provas de aferição, aos exames, que se consubstanciam nos "rankings" das Escolas. Os "rankings" não servem a aprendizagem dos alunos! Não servem a construção de comunidades inclusivas de construção social e cultural de aprendizagem. As provas de aferição, os exames e os "rankings" transportam consigo um odor de exclusão social, de controlo, de desconfiança sobre o quotidiano das salas de aula e das escolas, que está ultrapassado há muito. Um espírito que está muito longe do sonho, ainda hoje em construção, das comunidades sociais e culturais inclusivas, solidárias, abertas e livres que o 25 de abril nos trouxe.
Não precisamos de provas de aferição, nem de exames!!
Há sinais de esperança, muito contraditórios, sobre os quais é necessário refletir, como o projeto da Flexibilização Curricular, preconizado por esta equipa governativa (A mesma que mantém em funcionamento toda esta máquina das provas de aferição e dos exames). Está aberto o caminho. É preciso percorrê-lo, sem medo de errar. Os erros servem para se aprender com eles! Não servem para mais nada. Trata-se aqui da nossa aprendizagem coletiva, enquanto sociedade.
A quem servem as "provas de aferição"? A quem servem os exames? A quem servem os "rankings"?

25 de Abril, SEMPRE!!

Nota: Estes são dois pots que escrevi sobre este tema, no Facebook, entre 24 e 25 de abril de 2018, 44 anos depois de 1974.

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